"Aos quinze anos, espera-se que o príncipe encantado venha  montado num cavalo branco. Aos vinte, a exigência torna-se menor: o  cavalo pode ser pardo. Aos vinte e cinco, admite-se a possibilidade de  que o cavalo seja um pangaré. Aos trinta, o cavalo nem é mais  necessário, pode vir num jegue mesmo!
É mais ou menos assim que as expectativas vão se acomodando  dentro do coração da gente à medida que o tempo passa. Quanto maior o  horizonte de possibilidades, maiores são as exigências que fazemos. Isso  nos faz lembrar as palavras do filósofo francês Sartre: “A angústia nasce das possibilidades”.(...)
É muito comum nos dias de hoje encontrar meninas e meninos que,  aos 17 anos, já se sentem na liquidação. Passaram por inúmeros  “proprietários” e, depois, foram devolvidos. Provaram a triste e  dolorosa experiência de sentirem-se descartados como se fossem objetos  de consumo que, depois de usados, são jogados fora.  O mito do amor  romântico  Assim segue a vida, fortemente marcada pelos signos do amor  romântico, onde mocinhas acorrentadas na torre ansiosamente esperam  pelos príncipes que virão em seus poderosos cavalos brancos para  libertá-las da condição de acorrentadas.  É interessante que, no mito do  amor romântico, a força arrebatadora do amor sempre vence a altura das  torres e os projetos ardilosos de maquiavélicas madrastas. O beijo final  é a concretização feliz de um processo de luta e de busca que parece  ser metáfora do sonho humano de, um dia, finalmente descansar nos braços  de um amor eterno. É justamente por isso que essas histórias permanecem  vivas no inconsciente coletivo, visto que expressam nosso desejo de ser  personagens de conto de fadas.  Que seja eterno  Mas a vida é real  e, por ser real, os cavalos não são tão brancos, os príncipes não são  tão belos e as princesas têm frieiras nos dedos dos pés.  No momento  em que percebemos a inadequação entre sonho e realidade, descobrimos que  o amor que pensávamos que tínhamos pelo outro na verdade não passava de  uma projeção de nossas carências e idealizações.  Não podemos nos  esquecer de que o amor humano só é possível a partir da precariedade.  Somos a mistura de qualidades e defeitos, de belezas e feiúras. O amor  só é verdadeiramente consistente no dia em que descobrimos o que o outro  tem de melhor e de pior. O problema é que, na projeção de nossas  necessidades, cegamo-nos para o real, para o verdadeiramente possível.   Com isso, passamos a esperar o que não existe, o que não se dará  justamente por estar fora do horizonte de nossas  possibilidades.Portanto, o seu príncipe tão esperado até pode existir. E  a sua princesa tão desejada pode até estar escondida em algum lugar,  mas por favor, seja realista! É preciso baixar as expectativas. O  amor da sua vida virá, mas não creio que seja tudo isso que você espera.   Cavalos brancos são muito raros nos dias de hoje. É mais fácil o seu  príncipe chegar num fusquinha azul clarinho modelo 67.  E a sua  princesa, até creio que ela esteja esperando por você, mas não que ela  esteja numa torre, envolvida numa atmosfera de encanto. É mais provável  encontrá-la atrás de um balcão de padaria ou até mesmo no caixa do  supermercado mais próximo.  Mas não tem problema. Embora os moldes  sejam diferentes dos contos de fadas, vocês também têm o direito de  viverem felizes para sempre!"  

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