Ando insatisfeita com esmaltes. Troco
de esmalte duas vezes por semana e quero comprar uma cor nova cada vez
que pinto as unhas.
E nunca acho a cor certa que estou procurando. Na
verdade, troco tanto porque não sei qual cor estou procurando.
Ando
insatisfeita com esmaltes. Ando insatisfeita com esmaltes, com
hidratantes perfumados e comigo mesma. Ando comprando coisas inúteis
demais.
Comprando coisas demais pra preencher um vazio interno que não
precisa de esmalte, de hidratante perfumado ou de nenhuma outra coisa
que se possa comprar pela internet.
Dizem
que a solidão é o mal do século. Eu concordo. Solidão é ter amigos, ter
um namorado, ter uma família linda, ter milhares de admiradores. E não
ter a si mesma. Solidão é viver numa sociedade cada vez mais
superficial, cada vez mais consumista, que julga as pessoas pela
aparência e pelo tanto de dinheiro que elas têm. Solidão é o que move a
internet hoje – e sempre. Solidão é a única razão pela qual os Orkuts,
Facebooks e Twitters da vida se popularizam cada vez mais. Queremos
amigos, queremos mensagens fofas, queremos depoimentos que dizem pro
resto do mundo o quanto somos lindos, cheirosos e bem amados. Queremos
mostrar fotos das viagens pra Europa, queremos mostrar fotos com trinta
amigos diferentes, queremos mostrar foto do namorado novo da semana,
queremos mostrar fotos da nova melhor amiga de infância que acabamos de
conhecer, queremos que o mundo saiba que somos amados. Queremos
admiração. Queremos falar, o tempo todo, que temos amigos, amor e
dinheiro. Mostramos (ou, pelo menos, tentamos mostrar) pro mundo que
somos a estampa ideal, quando, na maioria das vezes, a viagem pra Europa
foi financiada em mil vezes ou foi paga pela empresa, os trinta amigos
da foto só são amigos na hora da foto e não são pessoas que se importam
de verdade no dia-a-dia. E os novos amores se vão a cada semana.
Queremos
ter mil amigos no Orkut, mas não achamos companhia pra assistir um
filme no cinema quarta-feira à noite. Queremos nos comunicar com todo
mundo do Facebook e “reativar” amizade com pessoas com as quais mal
falávamos “oi” dois anos atrás. Damos bom-dia no Twitter (um negócio
onde se fala sozinho) e não damos bom-dia pro vizinho no elevador.
Adicionamos Deus e o mundo no maldito MSN pra termos companhia e não
perder o contato com aquela pessoa tão querida e amada com a qual
trocaremos três frases ao longo do ano. Pessoas verdes online com as
quais mantemos relações virtuais 24 horas por dia. Tudo muito
superficial. Tudo muito virtual. Tudo fruto da nossa maldita carência,
tão maldita quanto essas relações virtuais infundadas. Precisamos nos
afirmar pro mundo e pra nós mesmos. Precisamos nos encaixar nos padrões
atuais de pessoa bem-sucedida e amada pra sermos aceitos.
Mas
o vazio está lá. Nas tardes de domingo. Nas compras virtuais cujo
encantamento acaba assim que o produto chega à nossa casa. Esperamos
encontrar a felicidade no Macbook novo, no celular com mil funções que
não toca, nas novas cores de esmalte que são lançadas toda semana, nos
hidratantes perfumados, nos xampus caros. Compramos pra ter companhia.
Compramos pra preencher um vazio interno. O mesmo vazio que tentamos
preencher com amigos virtuais, relacionamentos virtuais e mentiras
virtuais. Tapamos o sol com a peneira. Tapamos nossos buracos com
relacionamentos que não existem. Despistamos nossa carência aguardando
um produto chegar pelo correio. Nos tornamos tão superficiais quanto
nossos relacionamentos virtuais. Nos tornamos tão efêmeros quanto os
esmaltes da cor da moda. E continuamos nos sentindo vazios. E trocando a
cor do esmalte a cada semana.
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